quarta-feira, setembro 13, 2006

amor na escura penumbra...

Imagino-me, vejo-me pegar nas tuas mãos como penas que o bafo de Verão levanta na noite mais quente do ano. Beijo-te o pescoço, com o maior do carinho que alguma vez beijei alguém, e com os lábios acaricio-te suavemente o suave e macio pescoço... sinto um arrepio a percorrer o teu corpo e a passar para o meu....estamos ligados um ao outro.
Passo a mão pela tua cara e sinto os pesarosos momentos da vida nele cravados. Um sorriso teu vem contrariar tudo o que este gesto me disse, mostrando felicidade de alguém que se escondeu do mundo, que refugiou o coração no corpo para que ninguém o pudesse despedaçar. És feliz nesse momento, porque me dás esse prazer de chegar ao teu interior e tocar-te com toda a violência a tua alma. Cravo nela o meu amor por ti, como pintura rupestre levada pelos ventos da história até às civilizações de hoje.
Os teus lábios tremiam. Procurando acalmá-los, ósculo sagrado. bem-dito momento em que Deus criou o beijo, bem-dito momento em que, na sua pureza de ablaçao, consegue uma das suas maiores obras-primas sem nunca sequer ter experimentado a dor de o ver escapar quando termina para sempre. Qual pintor que não vê arte no seu quadro, porque não sente.
Os teus olhos, de um azul de meter inveja a todos os azuis do mar e do céu, são motivo de revoltas entre os Homens. Contorsem-se de raiva quando se apercebem qua a mais bela materialização da espectaluradide da Mulher é-lhes algo interdito de tocar e sentir com o Espírito. Mas eu, nessa noite, brinquei com eles ao brincar contigo. Olhavas para mim mas eu tentava-me distante para te forçar na busca desse contacto, que, sabes (!), me levaria à perdição.
Escapo dessa tentação...mordisco a tua orelha e sinto o teu gemido de não sabes bem porquê. E nesse instante, o teu sangue corre, como morto corre para a vida, como vivo corre para a morte. O teu pulsar torna-se no meu, mais uma vez uno. Então acaricio a tua nuca e digo, solenemente,:
- Boa noite.
...ao que tu respondes num mesmo rasgo de surpresa que toda essa noite seria:
- Boa noite...
Não era de maneira alguma uma despedida...mas a primeira vez que nos conhecemos.

Então a natureza entra numa exuberante vida própria: o vento deixaria de soprar numa tentativa de nos separar, nada nos vai separar; as árvores deixam de bater os galhos, para que as folhas, suas crias, pudessem testemunhar um verdadeiro momento de romance, o nosso romance; as flores e ervas desfolham num orvalho antecipado para refrescar o ar daquele intenso sentimento que se propagou, o amor que sentimos...

Custa-me descrever um momento que só acontecerá na escrita. Mas mais vale senti-lo a arranhar-me, distante, o coração, do que nunca senti-lo...

Nuno de Sá Lemos

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