segunda-feira, fevereiro 20, 2006

_Laços interesseiros_


A vida, muito sinceramente, agora começa a fazer algum sentido. Estou aqui para mim, para mim e resumidamente, para mais ninguém. Não me interessa saber de mais nada, dos outros, das coisas, porque se me interessa, é só isso mesmo....interesse puro. Estou com alguém durante a vida por puro interesse, como me mostram as recentes relações porque passo. A vida é um conjunto das mais interesseiras reelações.

Muito sumariamente, digo que a única relação não interesseira que tenho e que mantive, começando a sê-la há muito pouco tempo, é a relação que mantenho com a minha mãe. Nasci, precisava dela para me alimentar e, psicologicamente, vejo nela um ponto de partida para julgar as outras pessoas. Bem, por isso é que tenho a tendência de ver em todas as pessoas o bem, forçosamente, sempre o bem, e nunca...Nunca!! começo a relação com alguém vendo nela os pontos negativos (pelo menos os psicológicos, porque os notórios notam-se). Mas pelos vistos sou dos poucos.
Parece que todos os outros com quem falei sobre este assunto me vêm como ingénuamente cego. Eu argumento com a hereditariedade. Eles vêm injustificável mas eu insisto que a culpa não é minha.

Não interessa, o mundo é hipócrita, puramente interesseiro e poucas são as relações que eu vivo em que vejo um dia uma possibilidade de se virem tornar menos interesseiras e mais....puras....humanas!

Como diria o outro, o mundo só será genuinamente humano quando chegar o momento em que o ser-humano se virar para outro e disser:"eu vi mais do mundo que tu!", e não:"eu tenho mais dinheiro que tu!" (Agostinho da Silva). Porque esta vai ser a civilização verdadeira, em que a distinção do Homem vai ser pura, como o conteúdo que o conceito integra. Hoje, como é claro e eu admito muito dificil de vir a ser ultrapassada, o homem vê noutro inferioridade ou superioridade no dinheiro que sumiticamente guarda na conta bancária, no carro desportivo que têm à porta da mansão com piscina e jardim decorado com as melhores imitações das mais famosas estatuetas do mundo....
Este é o nosso parâmetro de distinção instântanea! Falsa, materialista, fútil e ,mais que tudo, preocupante. Eu chegando ao dia em que possa ver alguém com mais prestígio que eu mas única e exclusivamente porque possui mais material de exibição, tendo a minha pessoa elegido o caminho da riqueza intelectual, via-me algo frustrado. Não por não partilhar parte ou todo o prestígio de outrem, mas por ver que o mundo continua da mesma maneira, que eu vou morrer (ou não, não me perguntem sobre a morte. "Nunca morri, por isso não posso dizer como é. Perguntem a quem morreu, perguntem-me a mim! quando morrer. Dir-vos-ei, se conseguir. Porque não, até são meus amigos.") e deixar o mundo da mesma maneira que o encontrei, quando me tornei consciente dele. Esta é uma ideia que me impele à sua mudança, tentar fazer o máximo possível para deixar algo de diferente, quer meu quer meu indirectamente, porque vivi essa mudança!

Mas pronto, são só ideias de alguém que não é alguém para ninguém, só para mim (e para a minha mãe), apercebo-me agora. Concluíndo, toda a relação no mundo tem um interesse, por minimo que seja (a amizade de lata dobra-se pela mais pequena panacada na dobra e pode ficar fechada para sempre; a paixão vermelha, cor do diabo, torna-se cor-de-rosa até perder a cor, com a mais pequena tempestade chuvosa; as relações profissionais...não digo nada...1º ainda nao passei por uma concreta para estar a falar, 2º sao as mais interesseiras de todas, ou nao tinhamos sido treinados para elas - "profissionais" - nem todas tivessem um objectivo, poucas vezes colectivo) menos a pura amizade e o amor de mãe. Esta última é algo fácil de garantir, mas muitas vezes igualmente difícil. Quanto à primeira, é a mais compensadora e em que tu mais perdes, a mais fácil mas mais receosa de se ganhar por mais difícil de se perder. Neste último ponto vemos a razão pela qual ninguém consegue aproximar-se muito de outrem...por medo!!!...nao por falta de vontade...por puro e subjectivamente interesseiro receio...As pessoas querem é ser felizes, e por vezes a felicidade, muitas vezes a felicidade está em evitar os outros que ,sabemos, nos vão dar algumas desilusões...

Tenho dito, mas muito da boca para fora. Como diria "outro outro": "a escrita não é mais que um fingimento do sentimento. O poeta, escritor, não é mais que um mentiroso". E a mentira somente é uma "divergência sensível do que é dito para com a verdade". Realmente, uma pessoa consegue escrever sem sentir o que escreve. Torna-se algo falso, mas lógico e uma espécie de desabafo com ele e com o papel. Mais fácil é escrever o que sentimos, conseuqntemente, muito mais difícil também =)...

Nuno de Sá Lemos.
20/02/2006, 10:48

sábado, fevereiro 04, 2006

_Mentira_


Cai-me uma lágrima para o rosto,
Qual gota que escorre
Pelo frio vidro
E no fundo se junta às outras...

Sou feliz em qualquer parte.
Estou contente, para muitos
Tenho arte...
Para muitos,
Os poucos que me conhecem
Sabem que sou desastre...

O que é dentro de mim evito olhar,
Porque a evidência não posso negar...
A evidência que indicia
O vazio deste mal-estar.

Profundamente te desejo, amor.
Com uma mescla de terror
De nunca mais vir a tocar
O teu quente calor..

Assim, digo-me "desiste...
Desiste e resiste.
Já na vida mentiste,
Agora trata de ludibriar teu coração..."

Mas que maior mentira
Da vida,
Que causa mais dor e ira
Na vida,
Ou tal sentimento de horror
De ciúme
Negrúme
Tristeza
Inerente Rudeza...

O contornar daquela que, no meu pensamento, existe a deambular...
E uma parte da minha alma consegue rasgar...

Mentira!, mentira mais mentirosa de se mentir.
Mentira! mais difícil de mentir ao afundado jubilo mentido...

Nuno de Sá Lemos.