sexta-feira, novembro 02, 2007

A natureza estragada do ser humano:

Se somos maus por natureza, porque nos ensinas o bem? Perguntou-se um dia alguém que procurava resposta para o combate interno que se mostra a vida. Nicolau Machiavelli confirmou-o, politicamente dando o príncipe como uma figura necessariamente má caso esta quisesse sobreviver e fazer os submissos sobreviver. Toffler deixa a mesma natureza maléfica subenetendida nas suas obras, adaptando os ensinamentos de Machiavelli ao mundo contemporâneo. Todos o dizemos quotidianamente! Então, porque continuamos a ensinar o bem, porque continuamos a passar a lição de que tudo acabará bem, tudo tem um happy ending, quando se sabe à partida que esse mesmo bem e happy ending vai intrometer-se (nem que seja minimamente) com o bem que os outros querem para si? O intercruzar de interesses é que faz do Homem um ser naturalmente maléfico. Imaginemos: não existiam lutas; cada um conseguia ter tudo aquilo que quer ou precisa; todos conseguiríamos viver em paz e sossego sem que interferíssemos nos interesses de terceiros e sem que estes se vissem obrigados a interferir nos nossos interesses. Deixar-se-iam portas abertas para a felicidade de todos.

Porem, não acontece no mundo de hoje. Numa sociedade em que Alonso e Hamilton, consagrados (o primeiro mais que o ultimo) corredores de formula I mundial, sao pagos para porem as inimizades de parte e filmarem um vídeo publicitário que retrata essa mesma inimizade sobre forma de competição saudável, não seria de esperar outra coisa senão essa: o individualismo. Não faço apelos por sentimentos de altruísmo (o outro, o outro, o outro) falso ou conveniente para a imagem (o que se passa igualemente nos dias de hoje, quando vemos príncipes/ princesas, actores/ actrizes, chefes-de-estado, pegar numa criança africana desfavorecida e prometendo uma vida melhor vida daqui para a frente. Consigo imaginar a criança e pensamentos que lhe passem pela cabeça: dai-me o rebuçado e ponha-se a andar…o que por acaso corresponde à ideia da pessoa que a está a pegar…), já que o mesmo dificilmente existirá ou existiu na sua forma mais pura e agradável de se ver; mas pedir-se-á que as pessoas tomem tempo para pensar no que estão a fazer, de forma individualista extrema (eu, eu, eu), para que, por vezes, o cumprimento dos seus fins não o beneficiem somente a si, mas que cheguem a não prejudicar os outros. Provavelmente, um retiro para a vida campestre, passar um mês isolado do mundo e qualquer espécie de contacto com o moderno seria a solução: teriam mais tempo à introspecção da qual tanto estas pessoas necessitam. Ou senão, encontre-se um psicólogo profissional – sai mais caro – que os ajudem a cumprir essa task of a live time (because we don’t have a second…).

Antigamente, tinha-se mais tempo a pensar, não era uma espécie de privilégio garantido a alguns que o compraram por elevadas quantias de dinheiro, ou de outros que tudo da vida abdicaram. Antigamente, não havia tanto ruído, não havia tanta informação desinteressante que passava pelo filtro encefálico com carta branca para baralhar as nossas ideias. Antigamente, as pessoas conseguiam tirar conclusões e com elas viver positivamente, aplicando-as ao mundo (até ao momento em que uma dessas conclusões muda o mundo para sempre, como aconteceu). Basicamente, antigamente as pessoas conseguiam tempo e calma para pensar sobre a felicidade e com os outros males viver ou coexistir.

O interesse, pelas necessidades de hoje, é a base de todas as relações pessoais e profissionais. Enquanto estes chocarem – e isto acontece porque uma das partes não está conciente do choque e a outra tem e compreende as razoes para o impelir destes – e não existir cooperação ao invés, então a bomba vai cair sobre o mundo… e não vai haver rede de salvação para alem dos damage control.


Nuno de Sá Lemos

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